Diálogo 2 (segundo diálogo do triptico das performances "A espera e o resgate" -2010- , "Uma operação"- 2011 e ? em 2012)
1: Quando será que poderemos dizer alguma coisa sobre uma constituição?
2: Qual delas?
1 (irônica): Você sabe muito bem que falo das duas.
3 (uma das constituições): De mim vocês podem falar se quiserem. Venho sangrando pouco ultimamente, talvez me faça bem a exposição.
1 (para quem lê): Queridos, isto se trata de uma operação. Usamos este nome e não o nome cirurgia propositalmente, no entanto, as ações que aqui ocorrerão não deixam de ser um procedimento cirurgico. Ainda que as novas técnicas de leitura de um corpo estejam bem avançadas, em alguns casos, como dizem eles: "tem que abrir". No nosso caso, a abertura fez-se necessária para que uma primeira leitura do corpo legal e físico pudesse acontecer.
2: O lugar enrolado em arame farpado está aqui só para lembrarmos que nunca mais habitaremos uma constituição sem corte (ou envernizada). Talvez da próxima vez ele nem precise estar aqui. É um peso carregar tantos fios de ferro, mas, por enquanto, mais pesado seria não vê-los.
Diálogo 9 (original em ingles)
1: Eu não posso morrer antes de falar isso.
Eu não posso morrer antes de falar isso.
2: Eu não posso morrer antes de falar isso.
Eu não posso morrer antes de falar isso.
Eu não posso morrer antes de falar isso.
1: Eu não posso morrer antes de falar isso.
Eu não posso morrer antes de falar isso.
Eu não posso morrer antes de falar isso.
Eu não posso morrer antes de falar isso.
2: Eu não posso morrer antes de falar isso.
Eu não posso morrer antes de falar isso.
Eu não posso morrer antes de falar isso.
Eu não posso morrer antes de falar isso.
1: Eu não posso morrer antes de falar isso.
Eu não posso morrer antes de falar isso.
Eu não posso morrer antes de falar isso.
Eu não posso morrer antes de falar isso.
2: Eu não posso morrer antes de falar isso.
Eu não posso morrer antes de falar isso.
3: Eu estou indo o mais rápido que posso.
Eu ainda nao tenho voz.
Eu tenho só um ano, um mês e dois dias de idade. Eu ainda não posso falar.
Talvez eu deva parar de fumar. Pelo menos você não vai ter medo de morrer de câncer.
2+1: Talvez isso ajude um pouco.
3: Vou tentar.
Diálogo 3
2: Mas e se forem 4 mãos?
3 (cansada de tanto drama): Se forem 4 mãos você tá fora e pronto (ponto). Porque tanto tempo? Tarde agora é para isso. Ainda bem que eu apontei os lapis de cor.
3 (para 1): E porque você ajuda nisso?
1 (se fazendo de desentendida): Eu?? Ajudo como?
3 (brava/irônica): Quando você fala assim até parece que é burra! Ainda bem que eu sei que não é. Você ajuda pensando!!!!
1 (séria): Você sabe muito bem que isso não depende de mim.
3: Isso é você.
1: Exatamente.
3 (sem entender): Quê???
1: Eu não dependo de mim. Eu sou mim.
3: (quieta/lágrima)
3 (para 2): Tenta não escutar quando o pensar for de enfraquecer.
2 (com compaixão por 3): Eu sei. Não precisa ficar triste, eu não vou deixar você morrer do que eu sinto outra vez.
3 (com medo): Jura?
1 + 2: Sim. Você sabe que sim.
3 + 1: Sei, mas as vezes eu duvido.
2: Se você sabe em mim, não precisa duvidar. Diálogo 2
1: Você acabou de conhecer os outros olhos. Calma. Porque sempre isso de achar que vai perdê-los. Como se perde os olhos de outra pessoa? É tão sem lógica.
2: Disso eu sei…
1 (interrompendo 2): Saber não é uma palavra que exista no seu vocabulário.
2: Depende do que é saber para você. E você sabe o que é saber para mim (referindo-se ao sangue)
1: Eu não tô falando desse saber.
2: Ah! Do outro eu não sei mesmo, Graças a Deus! Já basta uma de nós saber assim. Se fosse diferente já estaríamos todas mortas.
1: Você está mudando de assunto. Eu só queria te ajudar a não sofrer.
2: Quando é que você vai entender que não é dizendo o que eu faço, e que causa sofrer, que eu não vou mais sofrer, ou mudar o fazer?
1(fala com compaixao por si mesma): Eu já devia ter entendido isso né?
2: Já (pausa mais ou menos longa) Mas eu sei que o que você quer dizer é para eu não me apaixonar por olhos que eu não conheço ainda.
Diálogo 1
2: Ia ser tão bom se alguém derramasse água nos meus copos.
1+3: Não vai vir das mãos pequenas.
2: Eu sei.
3 (irritada): Mentirosa! Quando é que você vai desistir de mentir? Você sabe que é impossível e mesmo assim (lágrima) continua tentando. Pára! Pelo amor de Deus, pára!
2 (para 1): Porque é que você me enganou hoje de manhã? Porque me confundir na única coisa que salva todas nós?
1: Não foi de propósito... É que eu pensei que fossemos aguentar.
3 (brava/triste): É! Eu não quero te chamar de idiota, (porque eu te amo - não diz isso, mas pensa) mas...(outra lágrima forte) ainda me fez sair e voltar com o pão fresco.
1: Olha quem fala! Você que nos levou até lá. Você e suas pernas.
3: Pelo menos não recebeste visita da Piedade. Você prefere o que: pernas fortes ou penas fortes?
1: Você sabe que eu odeio a Piedade. Pra que pergunta? Sem nós duas (falando dela e da 2), você não teria para onde ir com seus músculos e sangue.
